O golpe e sua alquimia…

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Gabrielli e Dilma em época em que tudo eram flores e o Brasil parecia que definitivamente iria para frente – Foto: Ag. Brasil/Arquivo

Não é possível entender o impeachment no país sem entender a dinâmica da economia internacional e os efeitos dela no Brasil. Até 2013, o PT tinha sido bem funcional aos planos econômicos do capital financeiro, com seu projeto de conciliação em meio a uma situação de boom das commodities e fluxos de capital para o Brasil.

A virada econômica mundial, com a queda de Lehman Brothers em 2008, iniciou uma crise econômica nas potências, mas, só a partir de 2011-2012, começa a atingir os ditos “emergentes”, e particularmente vai golpear o Brasil em cheio após 2013.

Junho simboliza o descontentamento de massas. Começado por uma demanda popular de transporte público, questiona também aquela forma de hegemonia no Brasil que não promoveu mudanças estruturais e começava a esgotar seu ciclo de conciliação com as elites num momento de virada da situação econômica.

A partir da politização que se gestou em 2013, com um crescimento de greves antiburocráticas em 2014, como a de garis no Rio de Janeiro, a de rodoviários em Porto Alegre, a do metrô em São Paulo, e a crise econômica batendo na porta do país, as classes dominantes começam também a se organizar para impor um novo projeto que extrapolasse os limites dos governos petistas e buscasse implementar um ajuste neoliberal ainda mais estrutural no país (mais que o dos governos FHC, aliás), incluindo uma resposta mais privatista ao sistema financeiro, às grandes estatais, às universidades e outros serviços, e de outro lado que imponha reformas draconianas como a trabalhista e previdenciária.

Dilma Rousseff tentou, em 2014, conciliar com esse novo quadro após sua vitória, colocando Joaquim Levy na Fazenda e aplicando os primeiros ajustes neoliberais mais pesados, com cortes em direitos fundamentais, como o seguro desemprego. Foi a senha para o golpe institucional, com a separação da massa trabalhadora do PT, o crescimento avassalador do antipetismo e o fortalecimento da extrema-direita.

Como disse Vladimir Safatle num debate: “sempre é bom a gente perguntar, quando você tem uma extrema-direita em ascensão, onde a esquerda traiu?”.

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