Associação de matrizes africanas usa tribuna livre da Câmara e denuncia intolerância religiosa em Eunápolis

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Depois do pronunciamento, filhos do santo entoaram o “Canto para Oxalá” – Foto: Milton Guerreiro

Praticantes de religiões de matrizes africanas de Eunápolis protocolaram um manifesto junto à Câmara de Vereadores de Eunápolis denunciando um grupo de evangélicos da Igreja Assembleia de Deus, do Bairro Juca Rosa, que no dia 13 de fevereiro passado teriam feito supostas pregações com teor de intolerância e racismo religioso contra o Terreiro de Candomblé “Logun Ede” sob os cuidados da sacerdotisa Maria Luziene Almeida da Silva, de 68 anos.

Segundo documento apresentado no espaço da Tribuna Livre, da Câmara Municipal de Eunápolis desta quinta-feira (24/03) pelo coordenador da Associação Filhos de Axé de Eunápolis, Cristovaldo Santos Silva, “os manifestantes utilizaram o aparelho de som de um veículo para realizar pregações em frente ao Templo e no dia seguinte violaram um assentamento do Orixá Exu”.

Praticantes de religiões de matrizes africanas de Eunápolis participam da sessão ordinária – Foto: Milton Guerreiro

Cristovaldo lamentou lembrando que não foi a primeira vez que seus direitos, garantidos na Constituição Federal do Brasil, foram violados por membros dessa Igreja.”Infelizmente, a intolerância religiosa nos acompanha a vida toda, quando a justiça dos homens não toma parte da nossa dor, quando os órgãos que nos representam não fazem valer as leis e estatutos que defendem nossos direitos, quando nosso filhos temem em ambiente escolares, assumirem a sua religião por medo do preconceito, quando não nos sentido á vontade de na rua vestir e usar nossos símbolos religiosos por conta dos olhares e palavras preconceituosas”. Desabafou

Em seguida frisou que isso é agressão e que a Associação está adotando as medidas legais cabíveis para que isso pare de acontecer.

DIFERENÇAS

Segundo Mãe Luziene (Maria Luziene Almeida Silva), em entrevista à editoria deste Blog, “o problema beira o fundamentalismo e as pessoas precisam aprender a respeitar diferentes crenças”. Lembrou.

O art. 20 da Lei nº 7.716/1989 prevê que é crime praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, com pena de reclusão de um a três anos e multa.

Tiago Mota, professor e vereador, foi aplaudido ao pregar o diálogo e o respeito às diferenças – Foto: Milton Guerreiro

CONTRADITÓRIO

A editoria do Blog da Rose Marie está disponível para que membros da Igreja se manifestem com o contraditório. O assunto foi registrado em Boletim de Ocorrência na Primeira Delegacia Territorial de Eunápolis no mês de fevereiro.

Após a fala do representante da Associação, Cristovaldo Silva Santos, o presidente da Câmara, Jorge Maécio (PP), designou que o documento fosse protocolado e que conste em Ata da Sessão Ordinária do Poder Legislativo de Eunápolis.

DIÁLOGO

No espaço do Grande Expediente, o vereador pastor Renato Bromochenkel usou o seu poder de fala institucional, sem que pudesse ser questionado pelo plenário, para negar os fatos. Ele explicou “que não estava representando a Igreja e ainda disse que não testemunhou a ocorrência”.

Membro da Igreja Assembleia de Deus, o vereador Renato Bromochenkel (Avante) falou no Grande Expediente, negando os fatos, mas disse que não estava representando oficialmente a instituição – Foto: Milton Guerreiro

Na página oficial da Câmara de Vereadores nas Redes Sociais o diretor do Ponto de Cultura Viola de Bolso, Sumário Santana, escreveu que “vereador da igreja poderia se eximir da fala e somente ter a virtude da escuta em respeito à diversidade e à sua própria autoridade pública que é, que teve antes, que tem e terá em muitas sessões”. Disse ainda que ao discursar no momento em que o público não pode se manifestar é “impor a sua autoridade aos visitantes, sobretudo aos visitantes que foram agredidos”.

QUEM É EXU?

Em seu desabafo, na Tribuna da Câmara de Eunápolis, Cristovaldo esclareceu quem é o Orixá Exu e salientou: “não cultuamos o mal, o demônio não pertence a nossa crença e religião, não somos nós que associamos a imagem de Exu ao capeta. Exu não é diabo! Não iremos nos limitar aos teus preconceitos. Não iremos permitir uma nova escravidão mental. A sociedade precisa estar pronta e lidar com as diferenças”. Elucidou.

A bem da verdade, de acordo com as religiões de matrizes africanas, Exu é um orixá guardião da comunicação, que faz parte das religiões originárias da África, como Candomblé e da Umbanda. É uma das entidades mais conhecidas e cultuadas pelos adeptos dessas religiões no Brasil.

Consta que Exu recebeu a missão fazer a comunicação entre os seres humanos e o plano divino e, como é uma entidade de grande importância, representa o início da comunicação. Por isso, ao iniciarem-se rituais ou trabalhos religiosos, é comum que se faça uma reverência ou oferenda especialmente para Exu.

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