Por que Lula deve vencer

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Comício de Lula em Florianópolis. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Carlos Eduardo Bellini Borenstein (*) – Faltando oito dias para o primeiro turno, a liderança do ex-presidente Lula (PT) nas pesquisas é incontestável. A incógnita que se apresenta nesta reta final é se teremos um ou dois turnos. Variáveis como voto útil, um eventual voto “envergonhado” em favor de Lula, e a abstenção serão determinantes para definir essa questão. No entanto, mesmo que tenhamos segundo turno, Lula seguirá como favorito e, salvo a ocorrência de um fato novo, deve vencer as eleições.

Ao analisarmos os levantamentos realizados pelos principais institutos do país – Datafolha, Ipespe, Quaest e IPEC – que fazem pesquisas com regularidade, o que permite captar tendências, observamos que Lula lidera os cenários estimulados de primeiro e segundo turno, além da espontânea, há cerca de um ano, com percentuais que variam de 42% a 45%, no primeiro turno, e entre 51% a 53%, no segundo turno. Além disso, o maior índice de rejeição de Bolsonaro – em torno de 50% – também beneficia Lula.

Durante esse período, embora o presidente Jair Bolsonaro (PL) tenha reduzido a vantagem de Lula, principalmente após a saída do ex-ministro Sergio Moro (União Brasil) da disputa, e a criação de um programa de benefícios sociais, em nenhum momento Bolsonaro representou uma ameaça para Lula, que apresenta uma intenção de voto muito consistente.

Vale recordar que Lula começou a recuperar seu capital político após as vitórias jurídicas conquistadas contra a Operação Lava Jato, o que reforçou a narrativa do ex-presidente de que foi alvo de uma “perseguição política”. Além disso, o ex-juiz Sergio Moro foi considerado suspeito pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e as condições de elegibilidade de Lula foram recuperadas.

Embora o tema da corrupção ainda traga desgastes para Lula, as vitórias jurídicas foram, paulatinamente, enfraquecendo a bandeira da corrupção como atributo eleitoral dos adversários do PT.

O passo seguinte de Lula, e que se converteu na grande jogada estratégica da sucessão, foi a surpreendente aliança com o ex-governador de São Paulo (SP) Geraldo Alckmin (PSB). Adversário histórico do PT num dos estados mais antipetistas no país – São Paulo (SP) – Alckmin, ao ser o vice de Lula, materializou o movimento de frente ampla pretendido por Lula para isolar o bolsonarismo.

Além de Alckmin, Lula construiu uma aliança que une PT, PSB, PCdoB, PSOL, PV, Rede e SD, ocupando praticamente todo o espectro da esquerda/centro-esquerda do tabuleiro. O ex-ministro Ciro Gomes (PDT), que almejava ocupar esse espaço, ficou isolado. Lula também firmou acordos com diretórios estaduais do MDB, sobretudo na região Nordeste, enfraquecendo a outra candidatura postada ao centro: a da senadora Simone Tebet (MDB).

Enquanto Lula dominou a esquerda e avançou sobre o centro, o presidente Jair Bolsonaro (PL), escolheu o general Braga Netto (PL) como seu vice, repetiu a estratégia de 2018 em circunstâncias políticas que não mais existiam – a eleição deste ano não é disruptiva – ficando isolado à direita.

Outro aspecto fundamental é que a candidatura Lula se conecta com os principais anseios do mercado eleitorado: o combate à fome e à miséria, à inflação, ao desemprego, e a recuperação do poder de compra, pautas que sempre estiveram presentes nas prioridades de Lula enquanto líder sindical e presidente.

Lula também carrega uma lembrança positiva, principalmente para as parcelas mais pobres da população, da ascensão social do período 2003-2010. Através desses atributos, Lula realiza uma campanha com poucos erros, acertando no posicionamento e na estratégia ao comparar legados – a Era Lula com Bolsonaro – propondo um debate retrospectivo a partir dessa memória positiva de seus dois governos, evitando cair na armadilha criada pelo bolsonarismo de debater a agenda dos costumes com objetivo de ativar o antipetismo na opinião pública.

A conexão com a agenda central da eleição – a economia – “casou” com a imagem de Lula, já que Ciro tem pouco a oferecer no campo social quando comparado ao ex-presidente. Simone Tebet ainda carece uma experiência bem-sucedida no Poder Executivo. E Jair Bolsonaro é o representante de um governo mal avaliado.

A chapa Lula-Alckmin também tem a seu favor o atributo da experiência. Num contexto de piora das condições sociais, principalmente dos mais pobres, Lula-Alckmin trazem a memória de governos avaliados positivamente, tanto no país quanto em São Paulo.

Os concorrentes de Lula, principalmente Bolsonaro, cometem o erro de direcionar sua artilharia para um adversário inexistente. O que isso quer dizer? Os adversários de Lula buscaram explorar as denúncias de corrupção na Era PT e o suposto “radicalismo” do partido.

As denúncias de corrupção, além de ser uma agenda velha, ficaram num plano secundário quando comparados com a economia. No caso do suposto “radicalismo”, Lula não abraçou uma agenda de esquerda ortodoxa, enfraquecendo tal discurso. A estética e a linguagem da campanha trabalham com a ideia de amplitude da mensagem, utilizando o vermelho – cor do PT – combinado com o verde, amarelo e azul, as cores da bandeira nacional – sem abrir mão de um programa progressista.

Em diversas oportunidades, Lula afirmou ser o representante de um movimento para reconstruir o Brasil, e não um candidato petista. Utilizou a clássica frase do educador Paulo Freire “unir os diferentes para vencer os antagônicos”. Chegou a afirmar que Alckmin representa o contrapondo ao PT, reconhecendo que ele e o ex-governador possuem diferenças. E o mais importante: Lula retornou ao jogo político como um candidato popular, reforçando sua relação afetiva com os mais pobres. Nesse sentido, uma frase muito utilizada pelo ex-presidente é que ele não irá governar, mas sim “cuidar do povo”, transmitindo esperança.

Ao unir a esquerda e avançar sobre o centro, Lula acabou anulando as candidaturas de Ciro Gomes e Simone Tebet como alternativas. Também deixou Jair Bolsonaro isolado no nicho de 1/3 do eleitorado que lhe apoia, é muito engajado, possui forte capacidade de mobilização, mas não é maioria na opinião pública.

Basicamente, Bolsonaro reproduz a narrativa antiestablishment de 2018, aposta na pauta dos costumes, mobilizando eleitorado religioso, principalmente os evangélicos pentecostais. Porém, fatos como, por exemplo, o ataque à jornalista Vera Magalhães, aumentaram sua rejeição junto às mulheres, o rótulo do radicalismo e o isolamento de Bolsonaro na opinião pública. Como contraponto a essa postura bélica de Bolsonaro e as ações de violência política promovida pelos setores mais extremistas do bolsonarismo, Lula utilizou frases de efeito como “governar deve ser um ato de amor”.

Por tudo que ocorre na campanha até agora, os sinais são que Lula caminha para a vitória. Embora a política seja muito dinâmica e fatos novos possam surgir, alterando tendências em curso, uma eventual derrota de Lula, a essa altura da eleição, está mais no campo do imponderável.

Lula assegura apoio valioso de Marina Silva – Foto: Divulgação

Nesses últimos oito dias de campanha, a incógnita que temos é se a vitória de Lula ocorrerá no primeiro ou segundo turno. E Lula trabalha fortemente para vencer em primeiro turno. Como exemplo podemos citar o encontro dessa semana de Lula com ex-candidatos ao Palácio do Planalto.

Além de Geraldo Alckmin, estiveram presentes Marina Silva (Rede), Fernando Haddad (PT), Guilherme Boulos (PSOL), Luciana Genro (PSOL), Cristóvam Buarque (Cidadania) e Henrique Meirelles (União Brasil). Também merece destaque a aliança firmada, anteriormente, com o então candidato ao Palácio do Planalto pelo Avante, o deputado federal André Janones (MG), o que representou um importante acréscimo para a campanha de Lula nas redes sociais.

As alianças de Lula com Alckmin, Marina e Cristóvam, críticos do PT num passado não tão distante, além de Meirelles, que assumiu o Ministério da Fazenda no governo Michel Temer, após o impeachment de Dilma Rousseff, representam mais um movimento de fortalecimento da frente ampla e em favor do voto útil para vencer no primeiro turno.

Este movimento pró-Lula na reta final da campanha teve a forte simbologia da união entre Boulos, líder do Movimento do Trabalhadores sem Teto (MTST), e Meirelles, uma das principais expressões do sistema financeiro, reforçando a narrativa pretendida de que Lula e Alckmin representam não um partido, mas sim um movimento democrático em favor da reconstrução do país.

Além disso, na quarta-feira passada (21), o ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior, que foi um dos responsáveis pela apresentação do pedido de impeachment contra Dilma, abriu voto para Lula. E nesta quinta-feira (22), o ex-presidente FHC (PSDB) reforçou o movimento em favor de Lula ao defender o voto em favor da democracia.

(*)Cientista político formado pela ULBRA-RS. Possui MBA em Marketing Político, Comunicação e Planejamento Estratégico de Campanhas Eleitorais pela Universidade Cândido Mendes. É mestrando em Comunicação Social na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

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